sábado, 2 de julho de 2016

Alhos com bugalhos

Curioso que sou, resolvi hoje passar os olhos rapidamente pelos números que representam os Servidores Públicos Federais e as pessoas abrangidas pelo Programa Bolsa Família, bem como os recursos financeiros destinados a ambos.

Os servidores englobam os da ativa, aposentados e pensionistas. Quanto ao BF existem tipos diferentes de benefícios e beneficiários, mas considerei o valor médio total.

Vamos lá então.

Servidores

Folha de pagamento: R$ 255.300.000.000,00 - Média: R$ 11.630,00

Bolsa Família

Investimento: R$ 28.100.000.000,00 - Média: 176,00

Observações:

1- Nem todo servidor público tem família (esposa e filhos).
2- No BF o valor médio é por núcleo e não por participante.

Assim os valores médios recebidos impactam de maneira diferente os integrantes de cada segmento.

Alhos com bugalhos? Por definição, sim. Afinal, o servidor da ativa trabalha, o aposentado trabalhou e fez jus à aposentadoria e o pensionista foi alcançado pela legislação (meritocracia?).

Já as famílias do BF fazem por “merecer” apenas e tão somente pelo simples fatos de serem miseráveis. Pouco importa se trabalham ou estudam, ou se possuem ou não um teto para o necessário abrigo.

Comida? Se miseráveis, certamente não lhes resta.

Bom, mas e daí, qual a razão de tanto devaneio?

Primeiro, para fomentar mais uma vez a discussão sobre a miséria brasileira. Boa parte da população tece severas críticas às políticas sociais, especialmente ao Programa Bolsa Família. Não me aterei aos tipos de comentários. Algumas críticas procedem, especialmente quanto a controles rigorosos, ações corretivas e as chamadas políticas de porta de saída. No mais, apenas um ranço preconceituoso e totalmente desprovido de argumentos razoáveis.

Segundo, para defender uma vez mais a necessidade de socorrer quem não foi contemplado com o “mérito” do pertencimento. Sim, a tal da meritocracia.

Na vida fazemos todo tipo de escolhas, menos esta. Não sabemos ao nascer o ninho que nos abrigará. É pueril, mas é assim.

Mais, quem tem fome tem pressa. Ou colocamos comida nesses pratos vazios ou não teremos mais com o que nos preocupar no curto e médio horizonte de tempo. A fome se incumbirá de nos livrarmos de todos os problemas, pois esses brasileiros morrerão por inanição.

Por último, com o propósito de justificar a comparação entre os segmentos, para ressaltar a disparidade promovida em números tão assustadores. 

Considerei um número de 4 integrantes por família.

A folha de pagamento dos servidores, como vimos, é R$ 255.300.000.000,00. Representa 4.31% do PIB 2015 e coloca mensalmente no bolso de cada um dos 8.8 milhões de integrantes em seus núcleos familiares a importância de R$ 2.907,50.

No BF investimos R$ 28.100.000.000,00. Ou seja, 0,41% do PIB para entregar a cada uma dessas famílias miseráveis o valor de R$ 176.00. Para a família. Por integrante, R$ 44,00! E aqui falamos de 55.5 milhões de pessoas alcançadas.

Pense nisso quando colocar a cabeça no travesseiro para dormir. Critique, esperneie, mas pense. É tão pouco para quem precisa de tanto.

Sei, sei... Alhos com bugalhos.

Mas é assustador, não?


PS: Posso confessar agora que a curiosidade foi resultante dos recentes atos do interino “Temer, o breve”.  Em especial pelos  41,47% de aumento para os servidores do judiciário.  Por questões de saúde eu me recusei a pesquisar pontualmente o impacto e abrangência de tal medida. Mas tenho plena convicção de que os nossos nobres juízes e demais servidores que os rodeiam estejam mesmo em estado de total penúria financeira.

terça-feira, 22 de março de 2016

Entidades de classe: para que servem?


Duas profissões distintas, com as suas devidas representações, e uma comparação que me veio à cabeça: médicos e advogados.

Pode parecer meio insano, mas para que servem mesmo as entidades de classe?

Há quase três anos, com a participação direta da AMB e do CRM, médicos brasileiros se posicionaram contra o Programa Mais Médicos. Com alguns argumentos válidos, outros nem tanto e a maioria muito aquém disso, defenderam o que julgavam ser merecedores, ainda que fosse uma espécie de reserva de mercado. No embate, ao menos deram a cara a tapa, nas ruas ou nas redes sociais.

O tempo passou e o programa provou ter proporcionado mais avanços do que retrocessos e em nada denegriu tão nobre profissão. Muito pelo contrário. A prova maior talvez esteja no fato de que hoje cada vez mais médicos brasileiros aderem ao PMM. A lamentar, somente o fato de não termos aproveitado a oportunidade para a discussão e implementação de medidas estruturantes, não apenas para valorizar os profissionais envolvidos como também aperfeiçoar o modelo de saúde oferecido à população brasileira.

De outro lado, fato recente, a OAB decidiu apoiar o impeachment da Pres. Dilma. Do ponto de vista do exercício da profissão são episódios totalmente distintos.  A decisão, não endossada por todas as representações estaduais, não buscou facilitar e nem garantir o exercício profissional. Foi apenas uma manifestação política. E em sendo “apenas política” trouxe consequências extremamente danosas no que diz respeito à individualidade de seus representados.

A atitude da OAB e seus ilustres conselheiros nada mais fez do que tão somente reviver o seu apoio ao golpe de 1964. E arrastou com ela uma legião de conhecedores e defensores da lei. E como lá atrás, talvez daqui a alguns anos, tente novamente se redimir, para a redenção moral e política de seus representados.

Não houve um movimento da categoria.  Advogados não foram às ruas, não empunharam bandeiras.

Ao menos, ainda!

segunda-feira, 21 de março de 2016

Uma proposta para o Juiz Moro

Nixon renunciou no chamado Watergate não por ser gravado, mas por mandar gravar. Então meu caro, já que quem mandou gravar foi você, aproveite o seu argumento e siga o exemplo do Nixon.